una Barranca nueva que marca el compasso

A juventude consagrou-se na maior confraria gauchesca do Brasil. O Festival da Barranca, acampamento que reúne músicos e intelectuais nativistas na cidade de São Borja (RS) toda Semana Santa, chegou à 38ª edição com motivos-de-ser.


Eraci Rocha convida o filho Guilherme para guitarrear uma canção


Após a morte de seus pensadores-fundantes, Aparício Silva Rillo e Sérgio Jacaré, a união periódica poderia esgueirar-se nas curvas de um rio de maré forte sem tino. Mas fiquei muito feliz de perceber claramente nestes últimos dias de Páscoa, que houve a consagração do que há mais de dez anos se prenunciava como uma nova estética e um novo sentido para aqueles que confraternizam musicalmente naquela junção, e quiçá para a arte regional.

Falo de um grupo de músicos, guinados pelo peito aberto de Pirisca Grecco e seus comparsas de Uruguaiana, que aglutinam hoje mais e mais geniais jovens interessados nas coisas do sul. Desde o final da década de 1990, quando se emborrachavam e faziam lindos fiascos, já se percebia um quê inconseqüente que precisava de prumo para revolucionar a música gauchesca. Assisti no palco da Barranca performances inesquecíveis de Pirisca. Certa vez subiu defendendo uma composição na noite final, solitário, empunhando bombo-leguero e atirando para frente em todas as convenções de gaita e violão. Outra, interpretou com falsetes sua música mais romântica e sintética, Zambita Nueva, de guitarra y voz, para encantar novos fãs que começavam a torcer por ele nos festivais estado afora e comprar avidamente cada disco novo seu.

Na filosofia da Barranca, sempre encontrei solidariedade musical para que o inusitado e o surpreendente emergisse. Nunca foi um festival sórdido-competitivo, como a maior parte se revela. Mas toda a energia despendida nos dias de feriado sagrado há muito tornara-se uma chama impertinente, que perdia argumentos na insana força de manter-se acesa.
Ataualpa Dorneles seresteia em meio ao acampamento de jovens musicistas
Este ano de 2009 descortinou na minha percepção uma fogueira de nó-de-pinho. Com originalidade e bebendo de fontes ciganas, roqueiras, transcendentais, artistas como Ângelo Franco trazem uma inquietude muito pertinente aos novos tempos de necessária renovação estilística no nativismo sul-rio-grandense. Este cantor e compositor não por acaso trouxe de volta ao festival da Barranca um ícone da música gaúcha, o flautista Texo Cabral. Não só por ter composto o grupo antológico Tambo do Bando nas décadas de 1980 e 1990, mas por transitar entre o samba, o jazz e o regionalismo com desenvoltura que atravessou gerações, Texo reenfilera-se no front da revolução. Pois seu antigo grupo foi um marco na história da música gaúcha e parecia até então sonegado uma sucessão, ao contrário do que percebo agora nesta juventude.

Ângelo Franco traz ao lado o ícone Texo Cabral
Sou integrante assíduo desta confraria desde 1997 e mais jovem que os jovens que resenho aqui. Demorei a escrever este comentário (passaram quase dois meses da Páscoa), mas o faço agora com mais segurança, certo de que o calor que me corou a face naqueles dias à beira do Rio Uruguai não é a única razão de ser deste texto. Escrevo sim porque urge no Estado o reconhecimento e o engajamento nesta nueva onda.

"Quer dizer..."

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