“A gente viaja não para perder as referências, mas para aumentá-las” (Airton Ortiz)

La Paz

Passada a feira do livro de Porto Alegre, vale ainda destacar a entrevista que fiz com o patrono Airton Ortiz, publicada no Jornal do Comércio. O escritor se diz um regionalista de carteirinha, mas não ortodoxo. Falou de diversos assuntos, inclusive alguns que são caros para os debates aqui do blog, como o Jornal Tchê, que ele editou nos anos 1980.

Entre a reportagem e a ficção, viaja e escreve baseado na cultura e na identidade do Rio Grande do Sul, entrando em contato com outras culturas. “A gente viaja não para perder as referências, mas para aumentá-las”, afirma.

Aproveito para ilustrar com fotos que registrei na Bolívia no final de 2011. Já havia publicado vários registros durante a viagem, mas as imagens que estão neste post são inéditas e combinam com o olhar do escritor no livro Gringo, que ele comenta na entrevista.

Cochabamba
Reproduzo abaixo alguns trechos:

JC Feira do Livro - No romance Gringo, Victor é um viajante inexperiente, que apresenta uma certa ingenuidade e vai amadurecendo na estrada. Foi uma forma de mostrar a cultura dos mochileiros através da sensibilização do protagonista?

Ortiz - Sim, é uma mescla da técnica chamada romance de formação com a literatura de viagem. Normalmente, no romance de formação, o personagem evolui emocionalmente a partir de uma tragédia. Mas não é preciso viver uma tragédia para renascer. Basta que se entre em contato com uma realidade muito diferente da tua, para descobrir um novo mundo. E a ideia do Gringo é exatamente essa. Mostrar um cara que acreditava que a cidade onde morava era o centro do mundo, e na medida em que vai viajando, entra em contato com outra realidade, outra cultura, outros povos, outros viajantes que estão na estrada em busca de experiência, e vai evoluindo. No final do livro, ele é um cara completamente diferente de quando começou. 

JC Feira do Livro - Como foi a experiência do jornal Tchê, na segunda metade dos anos 1980?

Ortiz - O Tchê tinha uma linha editorial bem definida. Não era preconceituoso em relação à cultura regionalista. Os outros eram e são até hoje. Para a mídia cultural, o regionalismo é coisa de grosso. O Tchê era regionalista, mas não ufanista. Criticávamos quando tinha que criticar, sem sentimento de culpa. E elogiávamos quando tinha que elogiar, sem achar que estava fazendo alguma concessão. Isto deu para o jornal uma credibilidade muito grande. Ele era respeitado tanto pelos regionalistas mais conservadores quanto pelos que não gostavam de regionalismo. Porque viam que os argumentos eram consistentes. Foi uma referência na época. Tá faltando hoje um veículo assim.

JC Feira do Livro - O olhar regionalista do Airton Ortiz aparece quando ele escreve um livro sobre Paris?

Ortiz - Claro. Eu viajo o mundo inteiro em busca das culturas típicas de cada lugar. É sobre isso que eu escrevo. Vou ignorar a cultura típica do lugar onde eu nasci? Seria uma incoerência muito grande. Não me interessa ir a Paris comer bife e batatinha frita. Não, eu tenho que comer o que eles comem e escrever sobre isso para o leitor brasileiro saber como é a cultura destes lugares.

Leia aqui a entrevista na íntegra.

Veja aqui mais fotos da Bolívia.

Cochabamba

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